quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

a branca de neve também fala da praxe

sempre quis ir estudar para Coimbra e nunca soube muito bem porquê. toda aquela tradição me fascinava. talvez por herança familiar, talvez por ser perto de casa, talvez por não ser Lisboa. acontece que não fui para Coimbra porque não pude. era em Lisboa que tinha sítio onde ficar e para onde tive que ir mesmo sem querer.

fui para uma faculdade onde apenas o meu curso não tinha praxe e, portanto, não fui praxada. ninguém me veio pintar a cara quando me fui matricular nem fazer seja o que for que fazem nas praxes. por causa disso passei os primeiros 3 dias de aulas no corredor mais movimentado da faculdade a ver gente a passar e olhar para a morte da bezerra sem falar com ninguém, eu e os meus colegas, porque ninguém nos disse que os professores estavam a faltar. não foi por isso que não me integrei e que não fiz amigos ao longo do curso. já um amigo meu, um ano mais velho, a frequentar outro curso na mesma faculdade foi praxado e detestou os anos que passou em Lisboa, obviamente que não foi por causa da praxe (acho que até gostou) mas não fez os tais amigos para a vida nem se integrou assim tão bem. no ano a seguir também não fui praxar, como é óbvio.

fast forward uns anitos e voltei a entrar na faculdade (outra), desta vez através de concurso especial e por isso a minha matrícula foi feita já a meio da 'semana de praxes'. e também ninguém veio ter comigo a perguntar-me o que quer que fosse. conclusão, segundo ano caloira, segundo ano sem ser praxada. por acaso a minha turma praticamente toda se deu muito bem durante o curso e diria até que sempre fomos muito unidos. tirando a timidez inicial que todos temos em qualquer situação, também não precisei da praxe para me integrar ou fazer amigos.

só que aqui a história foi efectivamente outra. eu e uma colega (também já licenciada e que já tinha passado pela praxe na outra faculdade) queríamos participar nos jantares e actividades dos caloiros com os nossos amigos e a resposta foi a mais hilariante possível. tínhamos que enviar um e-mail para a comissão de praxe a pedir autorização porque não tínhamos sido praxadas e não podíamos nunca faltar as actividades e blábláblá. quando respondemos que éramos ambas trabalhadores-estudades e que não podíamos ir a todas as actividades mandaram-nos passear. 1-0 para a integração.

chega-se ao fim do ano e todos os nossos amigos iam ao enterro do caloiro e alguns traçar a capa. fomos novamente tentar 'integrar-nos' no processo e depois de andarmos a ser chutadas de umas pessoas para as outras disseram-nos que sim, depois que não, depois que talvez e por fim que podíamos participar desde que no próximo ano fossemos a todas as actividades de praxe para ser praxadas com os outros caloiros. 2-0 para a integração e aqui mandámo-los definitivamente passear. já agora, dos meus colegas todos que foram praxados e dos (menos) que trajaram apenas 2 ou 3 estiveram a praxar só no ano seguinte (no 3º ano acho que ninguém lá foi).

no fim disto tudo, a minha opinião sobre a praxe? acho que 95% é ridícula e podia bem ser descartada. acho as aulas fantasma engraçadas e, daquilo que conheço, pouco mais (uma ou outra situação que já me contaram de várias praxes). 95% é uma situação de humilhação, de violência psicológica e que não serve nem para criar amizades nem para integrar os caloiros.

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